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  • Foto do escritorJoana

Instituto de Apoio à Criança

Neste projeto que é o Viver Alternativo, uma das minhas funções tem sido a de contactar entidades e/ou organizações, que nos possam apresentar diferentes faces da nossa sociedade. Com isto consigo, também eu, aprender um pouco mais sobre projetos de que já ouvi falar, mas sobre os quais chego à conclusão de que sei muito pouco.

O Instituto de Apoio à Criança é, como o nome indica, um destes projetos inspiradores, que já tive oportunidade de conhecer. No entanto, depois de receber o texto que pedi, e que tão amavelmente me foi disponibilizado, percebi que é muito mais do que um Instituto. É verdadeiramente o abraço, o carinho e o amor de que tantas crianças precisam.


Através deste texto, conheci a Maria. Como a conheci? Através das palavras de quem a apoia com todo o seu coração. Porque todas as crianças querem apenas isso mesmo: dedicação e compressão. Para aquelas que não têm em quantidade suficiente, existe o Instituto de Apoio à Criança.


"Da rua para a sala e da sala para o mundo!


Foi-me colocado o desafio de apresentar o Instituto de Apoio à Criança (IAC), abordando a questão da intervenção social. Depois, foi-me dito que não havia pressa, pois o importante era ser um texto inspirador – o que aumentou a responsabilidade e o grau de dificuldade...


Falar do IAC não é complicado, até porque essa informação está acessível ao clique de um dedo para todos os que queiram saber mais sobre nós. Portanto, o propósito seria passar uma mensagem que levasse os leitores a “sentirem” o que fazemos e como diariamente procuramos respostas para que muitas crianças, adolescentes e jovens que cruzam o nosso caminho (aliás, nós é que cruzamos o deles…) tenham “Viveres Alternativos”, com mais dignidade, onde possam crescer felizes e em que os seus Direitos sejam respeitados e salvaguardados por aqueles que os podem e devem proteger.


O IAC fez no passado dia 14 de março, 39 anos! E desde o primeiro dia que a sua missão é a Defesa e a Promoção dos Direitos da Criança. Ao longo destes anos, foram muitas as crianças que foram alvo da intervenção do IAC. Poderia falar-vos de inúmeras situações, de muitos casos de sucesso (felizmente) e também de alguns em que isso não foi possível.


Lembrei-me de vos falar da Maria…


A Maria é presença habitual nas atividades do IAC, mas foi na rua, no bairro (não importa agora qual…) que a conhecemos e que nos cativou. Gosta de tudo o que se lhe propõe: jogos, pinturas, atelieres... nunca diz que não gosta, nunca diz que não consegue. Na verdade, o que mais gosta é de pintar os seus próprios desenhos; tem sempre uma ideia para executar num papel em branco ou numa folha quadriculada, onde expressa padrões de cores em harmoniosas gradações e, no fundo, toda a beleza do seu imaginário.


A Maria tinha um desejo, queria voltar à escola. Ela já tinha ido à escola e lá tinha aprendido muitas coisas que gostava de retomar para aprender ainda mais... As artes manuais são o seu forte, a criatividade e a imaginação são como a água inesgotável da nascente que enche de vida e cor, aquilo e aqueles, que toca.


O IAC lutou por ela, pelo seu sonho e o regresso à “escola” por fim aconteceu! Não à mesma que ela conhecia (porque não era possível), mas a um Colégio que a acolheu e assim aconteceram novas aprendizagens, novas obras de arte, novas amizades, onde tudo e todos foram também tocados pela sua alegria, sensibilidade, solidariedade... A família da Maria tem sofrido muitos sobressaltos, perdas e a distância de entes queridos que a fizeram feliz no passado e que vai lembrando, com saudade, mas sem revolta. Conformada em viver só com o pai, que tem muitas dificuldades motoras e depende dela no dia-a-dia.


Para além do Colégio, ela sabe que pode também contar com o IAC: para conviver, para fazer os trabalhos que tanto gosta e para partilhar o seu mundo feliz e a sua esperança em voltar a estar junto dos sobrinhos que vivem longe. No IAC tem sempre uma atenção especial: pode contar os seus segredos, pode dizer o que pensa e pode contar com o apoio que a família, o seu pai, não lhe consegue dar, como por exemplo ir às consultas ou até conseguir uns óculos novos.


Quando a conhecemos, a Maria raramente saía do bairro. Não foi fácil convencer o pai que a Maria precisava de conhecer o mundo fora do bairro e que connosco estava segura. Aos poucos, essas aventuras foram acontecendo… Pela primeira vez saboreou um hambúrguer “famoso” (como ela lhe chamou); passeou pelo Parque das Nações e até andou no teleférico! (e não teve medo! Quer dizer... “só um bocadinho!”)


Mas o dia mais especial, foi o seu dia de aniversário, data que nem ela própria sabe e que a família nunca se lembra. A idade, pouco importa, pois ela não sabe, nem gosta que lhe perguntem como o fazem alguns vizinhos em tom de gozo. O que importa é que o IAC a levou a passear à baixa de Lisboa. O que importa é contar com mais uma memória feliz, de ter almoçado fora, de ter visitado o museu do Hospital das Bonecas - onde voltaria todos os dias, se pudesse, para ajudar a tratar os internados com os seus conhecimentos e habilidades manuais. O que importa é que comeu um gelado sentada numa esplanada e conheceu coisas lindas, como uma turista... na sua própria cidade. E ainda teve presentes – que adorou!


A Maria tem uma forma especial de ver as coisas, de ver os outros e o mundo. Nós gostamos da forma como ela vê: “…maldade é falta de educação!” Não se queixa da vida nem da pobreza, fala antes dos seus sonhos e tem muita esperança. Ela preocupa-se mais com o que gostaria de oferecer, do que com aquilo que lhe falta. A sua cor preferida é a cor dos seus sonhos e do seu mundo interior: Cor-de-rosa!


Nós sentimo-nos especiais por sermos seus amigos e sabemos que o que lhe conseguimos dar é muito menos do que o que ela merecia, é muito menos do que, a todos à sua volta, ela dá todos os dias!


Para o IAC, o interventor social é aquele que coloca os seus conhecimentos, a sua experiência e, acima de tudo, a sua incondicional dedicação para que as muitas “Marias” que infelizmente existem, possam ter uma vida mais digna e viverem o tempo de serem crianças.


Para o IAC, o interventor social é aquele vai ao encontro da Criança e que vê, sente, onde e como ela vive. É no terreno, no contacto direto, que se começa uma relação de empatia e confiança, em que é fundamental saber escutar, ouvir, compreender o que é dito e observar o que não é manifesto (a voz, a expressão facial, a linguagem corporal… – tudo é comunicação). As técnicas lúdico-pedagógicas são uma metodologia muito utilizada, pois ajudam a criar esta proximidade e o informalismo necessários à abordagem, por vezes, de temas difíceis…


Para o IAC, o interventor social é aquele que dá voz à Criança, que promove e incentiva a sua participação ativa, que defende que ela deve ser ouvida e as suas opiniões tidas em conta. Se assim não fosse, talvez a Maria não tivesse voltado à escola…


No IAC, aliar a técnica à afetividade é um lema de intervenção e é uma metodologia sempre presente. As Crianças precisam de afetos, de interações prazerosas e de qualidade. Sem relação não há confiança, sem confiança não há mudança.

E porque estamos a falar de afetos, deixo-vos um autorretrato que a Maria ofereceu com muito carinho à sua grande amiga do IAC - a Teresa! Ela diz que gosta de toda a equipa, mas a Teresa é especial… porque lhe dá aqueles abracinhos fortes, porque a escuta com atenção, porque a leva a passear e isso são momentos bons e felizes, que ela guarda com carinho e com expetativa de quando se repetirão.


Pode haver outros caminhos…, mas este é o nosso, em que a viagem se faz todos os dias… ao encontro da Criança."



Instituto de Apoio à Criança


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