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Filarmónica União Sardoalense

Sou Sardoalense! Não moro no meu concelho de origem há 15 anos, mas volto lá sempre que posso, e as minhas raízes acompanham-me sempre, porque fazem parte de mim. Será precisamente por este motivo que atribuo à Filarmónica da minha terra a importância que ela, para mim, tem.


Em espaços urbanos maiores, as Filarmónicas são mais um dos grupos musicais que têm, sem dúvida, a sua importância, mas que não se distinguem particularmente de todos os outros. Para nós, que vimos de regiões do interior, habitadas por menos pessoas e com especial atenção aos detalhes, a Filarmónica significa muito mais que Música. Significa Arte, Oportunidade, Entretenimento, Evolução, Criatividade, Orgulho!


Estamos a cerca de 2 semanas das Festas do Concelho de Sardoal, que começam no dia 22 de Setembro, e se prolongam até dia 25 do mesmo mês. São festas importantes para todos os habitantes do concelho, em que celebra a elevação do Sardoal a vila. É mais um momento de festejo para os Sardoalenses, do qual a Filarmónica União Sardoalense não podia deixar de fazer parte.


Convidei o atual Presidente da FUS, César Grácio, para que respondesse a algumas preguntas do Viver Alternativo. Sendo uma Filarmónica atualmente tão reconhecida, foi com grande alegria que vi o convite ser aceite. Tentei que as preguntas fossem simples, para que as respostas pudessem ir de encontro aquilo que é a FUS: uma instituição familiar, ambiciosa, mas simples na sua essência.



Muito obrigada, em particular, ao César e, em geral, à FUS. Continuem a ser a fonte de inspiração que são, há 160 anos (celebrados recentemente), para muitos jovens, e a alegria que proporcionam às gentes que vos acompanham na vossa caminhada!


VA. Conte-nos, sucintamente, a história e origem da Filarmónica União Sardoalense.

CG. Com a atual designação - Filarmónica União Sardoalense – existe desde 1911, mas a sua origem remonta a 1862, há 160 anos precisamente, quando foi constituída a Sociedade Philarmónica Sardoalense, no dia 03 de Agosto de 1862. Datam de 06 de Agosto desse mesmo ano os estatutos da Filarmónica, que até aos dias de hoje se mantêm, sem uma única alteração, pois foram de tal forma bem pensados que ainda não houve essa necessidade.

A criação da FUS foi dinamizada pelo padre Gregório Pereira Tavares e o seu primeiro maestro foi Pedro Gregório Correia Branco.

Mais tarde, julga-se que uns 5 anos após a sua criação, houve alguns desentendimentos que causaram divisões na Sociedade Philarmónica Sardoalense, dando origem a uma segunda banda denominada Sociedade Fraternidade Sardoalense. Assim, coexistiram durantes uns anos duas bandas filarmónicas no Sardoal: a pioneira Sociedade Philarmónica, conhecida também como “música velha” ou “Música do Pau Teso” ou ainda “dos ciganos”, e uma nova banda, a Sociedade Fraternidade Sardoalense, também chamada de “música nova”, “Música do Cu Aberto” e ainda a “dos carapaus”. Conta-se que a rivalidade entre as bandas e a população que apoiava uma e outra banda era tal, que chegava-se muitas vezes a vias de facto, em plena praça pública.em 1911 a “paz” regressou à filarmónica no Sardoal, passando novamente a existir uma só banda, a que hoje conhecemos: a Filarmónica União Sardoalenses.



VA. Qual a importância que a FUS tem, atualmente, na sociedade do concelho de Sardoal? E dos sardoalenses?

CG. A FUS continua a ser uma referência junto de toda a comunidade sardoalenses, quer a nível institucional, quer a nível popular. Costumamos dizer que a FUS é uma família, e na verdade isso sente-se de todas as vezes que saímos à rua, a tocar. As pessoas gostam muito de ver e ouvir a banda a passar, batem palmas, tiram fotografias e nós sentimos sempre um carinho muito grande de toda a gente. De uma forma mais intrínseca, a FUS tem contribuído, ao longo da sua existência, para o espírito do associativismo, do trabalho de equipa e, inclusive, tem sido “a salvação” de muitos jovens. Não são poucas as vezes em que os pais nos procuram para que os filhos possam integrar a FUS. A verdade é que a música tem um poder medicinal comprovado, além de favorecer a concentração, a responsabilidade, o companheirismo e a solidariedade. Somos um grupo, uma banda e, no fundo, uma família. Acreditamos e sentimos que o nosso papel é fundamental para a salvaguarda do património imaterial do Sardoal. Somos parte.



VA. O que é necessário para pertencer à vossa filarmónica?

CG. Para ser sócio basta demonstrar interesse. A atual quota é de 12€/ano mas o novo sócio pode escolher outro valor anual para contribuir para a FUS. Para ser músico da banda, é já exigido um determinado nível de conhecimento musical. Para quem não tem essa formação, recomendamos sempre que ingresse na nossa Escola de Música, onde em média, no espaço de 3 anos, irá adquirir as competências necessárias para integrar o corpo de banda da Filarmónica.


VA. Qual o motivo que cativa tantos jovens a fazer parte da FUS?

CG. Acreditamos que a tradição é o principal fator. A FUS faz parte da história do Sardoal, das famílias e de toda a comunidade. Desde há muitos anos que pertencer à FUS era visto como algo natural e que todos queriam. Hoje já não é tanto assim, debatemo-nos com outras ofertas, igualmente aliciantes para as crianças e jovens, desde o desporto até aos écrans nas suas variadas formas. A aprendizagem da música é muito trabalhosa, demorada e não se vê resultados imediatos, o que às vezes pode influenciar negativamente os jovens, que preferem atividades que possam executar mais rapidamente.

Ainda assim, e porque as famílias ainda conseguem ver a importância da música na formação pessoal das suas crianças, continuamos a ter um corpo de banda bastante jovem e a escola continua a sua tarefa junto dos mais novos.



VA. Em que atividades participam e desenvolvem ao longo do ano?

CG. Somos convidados dezenas de vezes para pequenas atuações nas mais variadas atividades promovidas quer pelos órgãos autárquicos, quer por outras associações: concertos, inaugurações, procissões, outros serviços religiosos e, em especial, temos uma forte participação nas celebrações da Semana Santa e também nas festas do concelho. Além disso, desenvolvemos outras atividades de nossa iniciativa, como os Santos Populares, concertos temáticos, encontros de música, etc.

Este ano lançámos um novo projeto, “Aldeias com música” que permitiu levarmos um concerto de carácter mais pedagógico a quatro aldeias do concelho. Correu muito bem e vamos, decerto repetir.

Claro que ainda não retomámos a totalidade das nossas atividades, devido à paragem forçada pela COVID, nomeadamente o coro e as marchas populares, mas queremos recuperar o ritmo que levávamos quando a pandemia se instalou.



VA. Em relação à vossa escola de música. Qual a sua importância, e como se desenvolve?

CG. A escola de música é, no fundo, o garante da banda. Sem novos alunos, não teremos continuidade. É de extrema importância e é algo que nos levanta sempre preocupações. A banda é um grupo que, todos anos, sofre com a saída de elementos ou porque são jovens que vão para a universidade e não regressam, ou outros que, por motivos profissionais já não conseguem conciliar, e outros que, pura e simplesmente, desistem porque mudam os seus interesses.

Ora, perante esta realidade que se verifica há décadas, é importantíssimo garantirmos que continuamos a ter novas entradas na banda, e para isso, temos de ter a escola de música a funcionar em pleno para irmos formando os alunos que serão, um dia, os futuros músicos da banda.


VA. Recentemente foram galardoados com o Prémio Personalidade do Ano de Cultura do jornal O Mirante. Que importância teve este prémio? Estavam à espera? Qual a reação dos seus músicos?

CG. Não, sinceramente não estávamos, especialmente nesta altura, em que a Filarmónica esteve a garantir apenas “serviços mínimos”, devido à paragem forçada pela pandemia. Mas no fundo, era um reconhecimento merecido e que veio em boa hora. A FUS desenvolve a sua atividade para a comunidade e com a população há 160 anos, sempre com a mesma dedicação e sempre com o objetivo último de formar músicos, criar laços com a comunidade e não deixar morrer esta tradição. A notícia foi recebida com elevado sentimento de gratidão e de reconhecimento pelo trabalho feito até aqui. Os músicos e todos os elementos dos corpos sociais viram reconhecido o seu empenho, para alguns de mais de 30 anos, tendo sido, obviamente, uma notícia perfeita numa altura em que estávamos, lentamente, a regressar à normalidade. Foi como que um incentivo para continuarmos a trabalhar, parecendo que é este o caminho correto.



VA. Creem que é dada a devida importância às bandas Filarmónicas em geral, e à FUS em particular?

CG. Pelo contacto que temos com outras filarmónicas e avaliando o contexto geral do país, de facto o governo central preocupa-se pouco com este tipo de estruturas. Toda a gente reconhece a importância da existência das filarmónicas por todo o país na formação musical e cultural das populações, mas no fundo, não passa disso. Não existem apoios diretos e quando os há, são pontuais e apenas destinados a determinada atividade. Não existe, por exemplo, como para outras estruturas, um financiamento continuado, com vista à execução de trabalho a médio/ longo prazo. Valem os esforços dos poderes locais, as câmaras e as juntas de freguesia, que vão permitindo que as filarmónicas continuem o seu trabalho. Felizmente, é esse o nosso caso, conseguimos manter grande parte da nossa atividade graças ao apoio financeiro que temos, em especial da Câmara Municipal de Sardoal e da Junta de Freguesia de Sardoal.


VA. Quais os vossos planos e projetos a curto e longo prazo, que nos possam revelar?

CG. Acabámos de concretizar um sonho antigo e uma necessidade urgente da FUS, com a aquisição da nova sede. Neste novo espaço vamos poder finalmente, dar melhores condições de trabalho quer à escola de música quer à banda. O grande objetivo, para já, é colocá-lo em pleno funcionamento e apesar de ser um investimento bastante avultado para a nossa associação, era já uma urgência: neste momento a nossa sala de ensaios é também a sala das aulas de música, a sala de arquivo, o espaço onde reunimos, o local onde fazemos festas para angariação de fundos, espaço de arrumos… serve para tudo e é uma sala com pouco mais de 50 metros quadrados úteis.

Para além disso, este ano comemoramos os 160 anos da Filarmónica e estamos a planear uma programação que se vai estender por um ano inteiro.

Temos também uma parceria a arrancar com o Agrupamento de Escolas do Sardoal, que em muito vai contribuir positivamente para os mais novos.

Temos outras ideias a médio prazo, que ainda não sabemos se vamos conseguir concretizar, nomeadamente a criação de uma classe de percussão, com o objetivo de atrair mais jovens para a FUS.



VA. Que mensagem a FUS gostaria de deixar aos Sardoalenses?

CG. Enquanto sardoalenses, apelo todos os dias, na minha vida privada, ao envolvimento de todos e de cada um nas atividades da FUS. Levamos a cabo muitas iniciativas para envolver e aproximar a comunidade, mas ainda assim, a adesão das pessoas fica muitas vezes aquém do que seria ideal. Por isso, a minha mensagem é mesmo essa: não deixem de participar, intervir, criar e viver a música e o associativismo connosco, o nosso trabalho é exatamente esse e todos juntos faremos sempre melhor pela nossa terra e pela nossa cultura.

Enquanto dirigente da estrutura, gostaria também de deixar uma mensagem de agradecimento a todos aqueles que, de uma ou de outra forma, mantêm aceso o espírito associativista, o orgulho de fazer parte de algo maior que nós mesmos e vão colaborando, seja com trabalho ou com o simples pagamento das quotas de associado. Por fim, é importante salientar que a FUS é de todos os sardoalenses, e todos os sardoalenses fazem a FUS. Somos e queremos continuar a ser a grande família do Sardoal!







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