Hoje trago-vos o testemunho de alguém muitíssimo inspirador! Ouvi a Mariana Machado numa entrevista que deu num programa de televisão. Como na maior parte das vezes, apanhei a conversa já a meio, e fiquei realmente fascinada pela força, coragem, determinação de uma mulher super confiante, mas sem deixar de assumir as suas fraquezas, fragilidades e dificuldades.
Em alguns momentos confesso que pensei "eu quero ser como ela quando for grande". Só em determinada altura percebi que nunca serei capaz de ser como a Mariana, por um motivo muito simples: tenho a vida muito mais facilitada do que ela. Principalmente no que diz respeito ao preconceito, uma vez que nunca saberei o que é ser menosprezada pelo simples facto de ter Paralisia Cerebral.
Sim, a Mariana tem aquilo que é considerado uma "deficiência", seja lá isso o que for. E é isso que a torna ainda mais especial. A Mariana não luta simplesmente pela igualdade, a Mariana dá o seu contributo para que o mundo onde vivemos aceite as particularidades da diferença, até porque diferentes somos todos. Sim, continuo a querer ser como a Mariana, principalmente a ter o equilíbrio que ela tem, mas sei que nunca vou conseguir. Contento-me em ter o testemunho que ela amavelmente nos cedeu, aqui no blog.
"O MEU TESTEMUNHO
De acordo com o Dicionário de Oxford, a palavra ableism surgiu por volta dos anos 80, nos Estados Unidos. No entanto, só nos últimos anos é que começou a ter mais visibilidade. Não sabes o que é ableism? É um termo em inglês que descreve a discriminação contra pessoas com deficiência, traduzido para capacitismo, na língua portuguesa.
Nasci em 1992, prematura. A algures entre o meu nascimento e a minha passagem para a incubadora, fiquei sem oxigénio, o que me provocou lesões cerebrais que me afetam a marcha e equilíbrio. A minha condição é chamada de paralisia cerebral.
A minha passagem pela escola não foi muito fácil. Alguns professores não acreditavam nas minhas capacidades, alguns colegas faziam troça de mim por causa da maneira como eu ando. Pensava que tinha nascido inferior, defeituosa. O que eu mais desejava no mundo era ser normal, igual aos outros. Sabia que sofria de discriminação, mas, lá no fundo, pensava que as pessoas que me discriminavam tinham razão.
Durante a minha adolescência e início da vida adulta, tentava a todo o custo “compensar a minha deficiência”: fazer mais coisas, esforçar-me mais, mostrar que era capaz. No entanto, apesar das minhas conquistas, sentia um grande vazio – eu não me aceitava como sou.
A dado momento, achei que já era altura de tentar aceitar quem eu sou. Contactei outras pessoas com deficiência, fiz pesquisas – e foi aí que percebi o que significa capacitismo e os impactos que tem na vida das pessoas com deficiência. Descobri que o capacitismo é mais do que o insulto, o descrédito. Capacitismo também inclui a falta de acessibilidade, o uso das pessoas com deficiência como símbolos de inspiração. Todos estes aspetos têm um impacto negativo na vida de uma pessoa com deficiência.
Quando falamos em deficiência, também devemos ter em conta a maneira como a deficiência é percecionada. Na área de estudos da deficiência, existem vários modelos estudados por autores que se dedicam a perceber como a deficiência é vista na sociedade. Quero-vos falar de dois modelos que são reconhecidos: o modelo médico e o modelo social.
De acordo com o modelo médico, as pessoas com deficiência são percecionadas como incapazes. Neste modelo, a responsabilidade é posta na pessoa com deficiência, que deve superar as barreiras.
Por outro lado, no modelo social, a responsabilidade é posta na sociedade, que previne a pessoa com deficiência de alcançar os seus objetivos. Este último modelo aproxima-se mais da realidade. Também nos ajuda a identificar que barreiras devem ser quebradas, permitindo-nos lutar pelos direitos das pessoas com deficiência, tais como a acessibilidade, habitação digna, educação e emprego.
Segundo o Banco Mundial, 15% da população mundial tem alguma forma de deficiência e tem mais probabilidade de enfrentar problemas socioeconómicos do que as pessoas sem deficiência. Tudo isto deve-se à falta de oportunidades.
A desigualdade no que diz respeito à deficiência não é só um problema das pessoas com deficiência, é um problema de toda a sociedade. Conto convosco para se juntarem ao movimento pelos direitos das pessoas com deficiência para uma sociedade mais equitativa e justa.
O PODCAST EM DIÁLOGO
Interessada pelas iniciativas tendo em vista um impacto positivo na sociedade, criei um podcast para abordar estes temas que pode ser ouvido nas plataformas de streaming de podcasts ou através deste link direto: https://anchor.fm/podcastemdialogo.
Neste âmbito, destaco os seguintes episódios:
Episódio 1 - O que é o capacitismo?
Episódio 2 – Desporto para todos
Episódio 6 – Vamos falar sobre ELA
Episódio 7 – Neurodiversidade
Episódio 13 – Bullying
Episódio 15 – Acessibilidade Digital
Episódio 20 - Desporto e muito mais
A ENTREVISTA NO PROGRAMA DO GOUCHA
No dia 21 de Setembro de 2021, fui convidada para ir ao programa “Goucha” na TVI, com o intuito de partilhar o meu testemunho. Podes ver o entrevista aqui: https://tviplayer.iol.pt/programa/goucha/5fe21c220cf2ec6e471a5d6b/video/614a2a 430cf241cadcdea7c8 "
Mariana Machado
Instagram: @MARIANAEMDIALOGO
Podcast: @PODCASTEMDIALOGO
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